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Eram seis e meia da manhã de um sábado, dia 26 de novembro de 1.998, quando o meu microsystem despertou, ao som da introdução de Battle Hymn, do Manowar. A dias de completar meus vinte anos de idade, já estava acordado havia certo tempo. Era a ansiedade pelo então Philips Monsters of Rock, que ocorreria mais tarde.

Tinha uma prova ou um trabalho para entregar na faculdade, não me lembro ao certo. Apenas que, do prédio da Gazeta, já fui direto ao Ibirapuera, onde cheguei pouco antes da abertura dos portões da pista de atletismo. Duas de minhas obsessões da adolescência tocariam naquela edição, o Savatage e o Dream Theater. Mas o dia, para mim, era de ver o Manowar.

Não que fosse um daqueles seguidores apaixonados pela banda. Mas, naquela época quando, recém retornado do interior paulista, tentava me encaixar de novo na cidade grande, o TRUE METAL parecia a única coisa estável na minha então corrida e esquisita vida. Ver Manowar e, especialmente, Battle Hymn, era o objetivo daquele festival. O resto era bônus. Simples assim.

Não foi daquela vez. Mesmo o Savatage tendo um feito um show acima da minha expectativa (e o Dream Theater, abaixo), o Saxon devastador como sempre e até Glenn Hughes sendo preciso nas preciosidades do Purple, a frustração por ter visto o Manowar fazer todas as palhaçadas possíveis no palco, mas dele sair sem tocar Battle Hymn deu o tom frustrante do que foi a edição de 1998 do Monsters para mim, não importou quão ótimos ou péssimos tenham sido Megadeth e Slayer na sequência.

De certa forma, tudo isso soa hoje como um passado muito distante. Não só a minha vida mudou demais, como o que me ainda mantém empolgado ao acompanhar os desdobramentos desse monstreguinho chamado heavy metal em 2015 está basicamente no outro extremo do estilo – acabei de ouvir o sensacional Four Phantoms do Bell Witch e o disco novo do Monolord estoura as caixinhas do meu desktop, conhece?

No entanto, quando foi anunciado o cast de 2015 da renascido Monsters of Rock, o segundo dia me soou muito mais atrativo. Na pior das hipóteses, álcool e galhofa garantiriam a diversão – Judas e Accept sempre valem o ingresso. Mas, no fundo, era uma nova chance àquele moleque de 19 anos e 361 dias de 1998. O decadente Manowar já me desapontara de forma comicamente homérica com a esculhambação de 2010, mas nunca perdi a sensação de ter contas a acertar com a banda e o domingo seria o dia.

Não acreditava, de verdade, que o Manowar tocaria Battle Hymn no Monsters of Rock de 2015. Afinal, a banda já costuma deixá-la de lado na maior parte dos raros shows, Eric Adams não tem mais a potência de outrora e o tempo de set do festival não permitiria todo o circo usual de Joey de Maio e ainda uma faixa longa, sempre cheia de pausas e embromações.

Foi num misto de surpresa e alívio quando, por volta das oito da noite do domingo, vi o Manowar iniciando aquela introdução que me despertava quase vinte anos atrás. Como se finalmente aquele show do Monsters of Rock de 1998 na pista de atletismo do Ibirapuera terminasse. E um ciclo da minha vida tivesse um encerramento menos melancólico.

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De certa forma, a própria edição de 2015 do Monsters of Rock foi um encerramento de um ciclo. Talvez mais do que isso, outra etapa na prorrogação da vida de dinossauros – no palco e fora dele. Pense em trazer todo o cast do festival para o mesmo 1998 referido acima. Pegue o setlist do Kiss, Judas Priest, Manowar, Ozzy Osbourne e Motörhead (em Curitiba mesmo), conte quantas músicas eles tocaram que já não poderiam estar no set há 17 anos. Não deve encher uma mão.

Se o Judas Priest, ainda esbanjando alguma vitalidade no palco, já acena diretamente com uma merecida aposentadoria, Lemmy e Ozzy vislumbram a morte cada vez mais próxima, enquanto Gene Simmons não tem papas na grande língua para assumir que substituirá a si mesmo e Paul Stanley para manter a máquina de dinheiro do Kiss funcionando sob as máscaras.

Entre os “dinossaurinhos” do cast, o Manowar é cada vez mais recluso em sua barulhenta insignificância com shows episódicos. O Unisonic é um novo spinoff do Helloween que agrega tão pouco quanto a carcassa do original há quase 30 anos. Malmsteen é uma piada velha de mau gosto. Só a formação atual do Accept parece ter algum futuro, com um vigor que talvez dure mais uns cinco anos.

Dos babyssauros nos dois dias do Monsters of Rock, o vocalista do Black Veil Brides teve um chilique e deixou o palco sob vaias. Rival Sons só empolgou as 200 pessoas já dispostas a prestar atenção neles de qualquer forma. Apenas o Steel Panther, que de novo só apresenta a piada, até por isso mesmo foi o único a conseguir arrancar uma resposta decente dos dinossauros do público.

Pois estes são os piores. Celebrando o Monsters of Rock como O MAIOR EVENTO DE METAL DO PLANETA, lotam dois dias de festival a preços salgados e não conseguem acompanhar nada que já não conhecessem há duas ou mais décadas. Rechaçam o Rock in Rio como “modinha” e pagam viagens caras para ver dinossauros pela enésima vez “antes do fim”, mal dando chance para bandas diferentes dos casts.

Gosto é gosto, cada um tem o seu, por mais errado que seja. E não sou eu quem vai dizer como cada um gasta seu dinheiro. Mas quem sabe um dia, quando estiverem putos com a mídia babando ovo para as atrações do enésimo Lollapalooza cheio de DJs e não ter mais nenhum headliner vivo para animar uma produtora a bancar uma edição de UM VERDADEIRO FESTIVAL DE HARD E METAL, percebam de quem foi a culpa.

Enquanto isso, deixa por Enter Sandman pra rolar aqui no Spotify…